segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sopa de Sarapatel

............ No seguimento de algumas sopas-refeição que tenho publicado ultimamente, deixo hoje esta Sopa de Sarapatel que, não sendo nenhum dos sarapatéis clássicos, nem alentejano, nem brasileiro, nem goês, recolhe de todos alguma contribuição e torna-se uma das sopas mais deliciosas que conheço, especialmente nesta altura em que se pede a uma sopa que aqueça e reconforte. .
Ingredientes:
.
Fressuras de cabrito ou borrego (bofe, coração, fígado e rim)
Entremeada
Banha de porco
Cebola
Alhos
Cravinhos
Pimenta preta em grão
Colorau
Piri-piri*
Sal
Laranjas
Hortelã
Pão duro
.
Preparação:
.
Parta as fressuras em pedaços muito pequenos e nas proporções adequadas ao gosto dos comensais.
.
O bofe não é muitas vezes consensual, pelo que deverá ter em conta que há muita gente que não é capaz de comê-lo; nesses casos mais vale não usar que deixar a sopa por comer.
Refogue em banha todos os ingredientes exceto os 3 últimos.
.
Acrescente água e deixe cozer em lume mínimo por duas a três horas.
Desfie a carne da entremeada.
Introduza um ramo de hortelã e uma laranja cortada em gomos e deixe levantar apenas fervura. Tape e deixe por 10 minutos, fora do lume, para harmonizar os sabores da hortelã e da laranja.
.
Sirva sobre pão duro, hortelã e gomos ou rodelas de laranja no prato.
.
Nota (picante): * As enormes diferenças de potência entre as centenas de variedades de Capsicum, vulgo malaguetas, piri-piri, jidungo, pimentas (Brasil), leva a que sejam frequentes surpresas quanto ao efeito desejado. Se a surpresa para menos picante é facilmente corrigível, já quando o picante se revela em excesso há pouco a fazer a não ser aguentar estoicamente que o suplício acabe.
Gosto de um grau de picante que aqueça o prato mas sem escaldar a boca, embotando as papilas para outros sabores. Por isso, é muito raro que use os frutos e sementes, sempre um risco; prefiro fazer extratos alcoólicos que ficam perfeitamente doseados e depois utilizar para cada um de acordo com a sua potência picante e o grau de picante que quero, um determinado número de gotas do extrato.
Para fazer o extrato, ponha frutos, verdes, maduros ou secos, com ou sem sementes (eu ponho as sementes à parte, para um extrato "fogo") em frascos e cubra de álcool alimentar a 90º (atenção, álcool alimentar NÃO É o álcool sanitário das farmácias). Na falta deste álcool, que em Portugal é estupidamente caro, use vodka com a maior graduação que encontrar, normalmente 40º. Deixe por 2-3 meses (ou mais), filtre e passe para frascos conta-gotas. Não esqueça o rótulo e de ensaiar, primeiro com poucas gotas, para saber a potência que ali tem.
Durante todas estas operações, tenha muito cuidado com as mãos nos olhos e mucosas; o melhor é mesmo usar luvas descartáveis e descartá-las após uso, pois mesmo mãos muito bem lavadas acabam sempre por transportar algum picante.

3 comentários:

João Mario disse...

Este blog é cultura pura. Aqui no Brasil preparamos o Sarapatel com miúdos de porco. Há no Nordeste um prato chamado "Buchada de Bode", que como o nome já diz, contém miúdos de Bode ou Cabrito. Essa sopa é realmente nova para mim e já me desperta o desejo de experimentá-la.

Um abraço.

cupido disse...

Ora aí está uma coisa que nunca comi. Estive a ver a tradicional de Castelo de Vide e gostei, como gostei da tua. É daquelas coisas que deve reconfortar estomago e alma.

anna disse...

Ai Luis, Luis, tantas coisas piores que extremidades... que malandro|!
Mas é como costumas dizer, teria de provar para poder refilar...
Beijinhos.